sábado, 27 de novembro de 2010

Mudanças para atrair novo dono do dinheiro

Em seus 44 anos de existência, o setor de shoppings passou por grandes transformações. "O que era eminentemente um centro de compras ganhou, ao longo dos anos, praças de alimentação, equipamentos de lazer e serviços", conta Augusto Ildefonso da Silva, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop). O Plano Real, em 1994, garantiu aos consumidores a possibilidade de comparar preços.
"As pessoas descobriram que algumas marcas é que eram caras e não os shoppings", comenta Guilherme Baldacci, sócio diretor da GS&MD Gouvêa de Souza.
O maior impacto, porém, ocorreu de 2003 a 2009. A expansão dos programas sociais do governo Lula, o aumento do emprego formal e da renda resultaram em uma mobilidade social sem precedentes: quase 30 milhões de brasileiros galgaram os degraus para a classe C, como mostra a Fundação Getúlio Vargas, totalizando 94,9 milhões de pessoas. Com renda de R$ 1.126 a R$ 4.854, a classe média emergente não só transformou-se na maior do país, com 50,5% de participação, como na que tem o maior poder de compra. Segundo o instituto de pesquisa Data Popular, nos bolsos desses cidadãos estão R$ 427,6 bilhões, 31% do total da massa de renda.
Esses consumidores ajudaram a engrossar o batalhão de frequentadores dos shoppings. Segundo estimativas da Abrasce, os 408 empreendimentos em funcionamento no final deste ano deverão receber 360 milhões de visitas por mês, o dobro do verificado em 2005. A classe B ainda é maioria, com 42% dos visitantes.
Mas os emergentes estão ganhando espaço e, dependendo da região, a presença deles fica entre 33% e 38% do total. "E mais 13 milhões de pessoas da classe C vão chegar a esses centros de compras nos próximos cinco anos", diz Renato Meirelles, sócio diretor do Data Popular.
"Os shoppings, criados para atender as classes A e B, demoraram a perceber que o dinheiro mudou de mãos", explica Meirelles.
Para Baldacci, da GS&MD Gouvêa de Souza, o grande desafio da indústria é conquistar essa classe média. O esforço já começou. Um exemplo é o Mais Shopping, inaugurado no fim de outubro no Largo 13, em Santo Amaro, porta de entrada para a populosa zona Sul de São Paulo. Com 16 mil m2 de área bruta locável (ABL), tem 400 lojas e exigiu um investimento de R$ 240 milhões.
O conceito do Mais Shopping, criado por Marcos Romiti, presidente da Natal Empreendimentos Imobiliários, e implantado pela REP Centros Comerciais, reúne grandes marcas com forte apelo popular e pequenos varejistas da periferia. "Desenvolvemos um mix dirigido para essa população e criamos um ambiente bonito, com todo o conforto oferecido por um shopping convencional", diz.
A ABL Empreendimentos e Participações Ltda juntou-se à Partage para construir o Boulevard Shopping São Gonçalo, no Rio - investimento de R$ 160 milhões a ser inaugurado em 2011. "A população de São Gonçalo vai se orgulhar desse centro de compras", afirma Vicente Pierotti, diretor da ABL. A Saphyr e o Prosperitas estão investindo R$ 300 milhões no Shopping Jardim Guadalupe, também no Rio, que entra em operação no dia 30. "Já fechamos com marcas importantes do varejo nacional", diz Paulo Stewart, presidente da Saphyr.

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