quarta-feira, 28 de julho de 2010

Indústria deve proteger-se contra os golpistas

Entregar a mercadoria ao cliente e não receber é um dos piores golpes que pode ocorrer à saúde financeira e ao equilíbrio de uma pequena indústria. Embora este tipo de prejuízo afete fabricantes de todos os portes, no caso dos pequenos, a situação é mais delicada, principalmente pela falta de capital de giro que a ajude a se sustentar nos momentos de caixa vazio e dívidas acumuladas com fornecedores. Apesar de toda indústria correr o risco da inadimplência, um problema crescente é a ação dos golpistas. São grupos que, desde o início das negociações, agem com o propósito de não pagar.
No ano passado, a ação dos golpistas causou um prejuízo de R$ 52 milhões às indústrias, distribuidores e atacados de todo o país, segundo levantamento realizado pela Associação Comercial de São Paulo. O valor foi 5% superior ao de 2004. Neste ano, as perdas continuam a crescer. O número de golpes aumentou 41% nesses primeiros sete meses. De acordo com Jaison Vieira, gerente-geral da unidade de negócios de pessoa jurídica da associação, um único golpista lesa o mercado em torno de R$ 47 mil e é 39 vezes protestado. Cada uma de suas vítimas perde, em média, R$ 1,2 mil.
Embora as indústrias de todos os segmentos devam ficar atentas à ação dos fraudadores, o principal alvo hoje são as áreas de alimentos, material de construção, material de informática, vestuário e eletroeletrônicos. São todas mercadorias de giro rápido que costumam oferecer lucro imediato. Para evitar riscos, Vieira alerta para características típicas dos golpistas: "são pessoas muito bem articuladas que dificilmente compram à vista, pedem desconto ou questionam o preço", alerta Vieira.
Muitas vezes, a principal vítima é a micro e pequena empresa. "O pequeno tem uma fome tão grande de venda e passa tanto tempo sem se alimentar que acaba topando qualquer negócio e, no final, se dá mal", explica Júlio Tadeu Alencar, consultor de produção do Sebrae-SP. A dica dele para evitar prejuízos é ser realista e entender que o lucro só é conquistado trabalhando. "Nada vem de graça. Se o negócio é bom demais pra ser verdade, é porque ele não é verdade", sugere Alencar.
Os golpistas agem de maneira profissional. Para não serem encontrados depois que o empresário se dá conta do golpe, eles costumam retirar a mercadoria no local ou solicitam o envio por transportadora. Para não deixar pistas, Vieira conta que eles trocam de endereço com muita freqüência, só atuam em prédios locados e apresentam dificuldades para fornecer documentação. Preste atenção também no tempo de casa dos funcionários e no foco da empresa. Negócios geridos por golpistas costumam trabalhar com funcionários novos e a atuar em um ramo de atividade sempre amplo.
Outra armação usada tipicamente por golpistas para facilitar suas ações no mercado é comprar empresas antigas e inativas de modo a "ganhar" 10 anos de experiência e credibilidade na praça. "Desta forma, ele atende o requisito exigido pelo mercado sem ninguém suspeitar", explica Vieira.
Antes de entregar a mercadoria para o cliente, a associação avisa que é sempre bom verificar a data de fundação da empresa, o tempo que ela trabalha no local informado, se houve alteração contratual nos últimos tempos e se há entrada e saída constante de sócios. Via internet, a associação oferece uma ferramenta de combate aos golpistas. Trata-se do serviço de informações comerciais para análise de crédito e risco. Dos 30 mil associados da Associação Comercial de São Paulo, cerca de 18 mil contrataram o serviço.
Vieira diz que graças a isso a associação ajudou a evitar 7.195 golpes em 2005. "Nossos associados deixaram de vender para golpistas e evitaram um prejuízo de cerca de R$ 15 milhões", explica.

Matéria publicada no Jornal Valor Econômico - SP - 17/08/2006

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